Fadiga e Clichê ou Nem toda mudança é inovação

clichê

Às vezes, percebemos em alguns profissionais e executivos uma certa fadiga com o uso indiscriminado do termo “Inovação”. Eles nos relatam escutar o termo sendo usado como se a inovação acontecesse a qualquer momento e em cada esquina. Seria como se a inovação tivesse passado a significar, para muitos profissionais e empresas, qualquer coisa “legal” ou alguma mudança, mesmo que superficial, no estado das coisas.

Talvez valesse a pena lembrar que toda inovação contempla alguma mudança, mas nem toda mudança significa inovação.

Se perguntássemos em alguma empresa se há inovação lá, praticamente todas diriam que sim. O termo, usado a torto e a direito, seria um modo de mostrar que estariam na vanguarda, seja lá do que for: da tecnologia, dos serviços ou de qualquer segmento de produtos. Existe até “dia da inovação”. Porém, tudo isso nem sempre significa que a empresa está realmente inovando em alguma coisa. Embora o termo possa transparecer uma transformação gigante, o progresso descrito volta e meia é mínimo.

Como outros termos populares, a inovação corre o risco de virar um clichê. Se é que já não virou. “A maioria das empresas diz que é inovadora na esperança de levar o investidor a crer que há crescimento onde não há”, diz Clayton Christensen, professor de Harvard e autor de “O Dilema da Inovação”. Basta fazer uma pesquisa rápida na Amazon.com e verificar a enorme quantidade de livros com o termo “innovation” no título, que continuam sendo ano após ano.

A definição do termo varia muito dependendo do modelo e das crenças de quem estiver falando. Para alguns, significa inventar algo que não existia antes. Para outros, significa transformar um produto em outro. Para outros ainda, é levar um produto já existente a outro público.

Scott Berkun, autor de “Mitos da Inovação” – um livro de 2007 que já alertava para a diluição do termo -, diz que o que a maioria das pessoas chama de inovação não passa, na verdade, de um “produto muito bom”. Certas empresas até apontam um diretor de inovação, mesmo que admitam que ainda não há uma estratégia de inovação clara que justifique o posto.

Em geral, podemos identificar tipos diferentes de inovação e isto depende da “ambição” estratégica da empresa. Há, por exemplo, a inovação na eficiência, na qual o mesmo produto passa a ser feito a um custo menor; uma inovação evolucionária, que converte um produto já bom em algo ainda melhor; e a inovação de ruptura, que pode transformar a própria estrutura da indústria, trazendo para a empresa um maior potencial de crescimento.

Como a inovação de ruptura pode levar bastante tempo para dar retorno, muitas empresas não aceitam esperar e aí torna-se mais fácil apenas dizer que se está inovando. No final, todo mundo estaria inovando, pois qualquer mudança, de algum modo, passa a ser tratada como inovação.

E daí alguns admitem que já estão cansando do termo inovação. E o que entraria no lugar? Invenção, para caracterizar que algo realmente novo nasceu? Talvez a questão não seja de terminologia, mas de uma parte fundamental de qualquer negócio que deve ser gerida. Não se trata de um elemento “que é legal ter”, tampouco de algo que apareça por geração espontânea. A inovação é um imperativo para o crescimento e um ingrediente indispensável para um sucesso sustentado.

(Postagem inspirada no artigo “Inovação vira clichê no dicionário empresarial”, Valor Econômico, 25/05/12, de Melissa Kom).