A lorota do “talento”
Não é uma mentira, porque talento torna-se cada vez mais imprescindível e ele não aparece em árvores; e é uma mentira, porque muitas organizações só adotam o discurso de que estão à procura de talentos.
“Queremos talento”, dizem, desde que o talento seja “de verdade”, produtivo e previsível. Ou, em outras palavras, queremos talento se o talento significa mais produtividade (ou a aparência de?), mais esforço a cada dia (suor e sangue no corredor!), que faça mais do que queremos pagar. Claro, esse tipo de talento, “podem nos enviar”.
“Talento de verdade”, sob essa ótica, não pode querer mudar as coisas, não pode criar uma mudança ou sequer pensar em quebrar paradigmas. A expectativa é que ele “se adapte”, siga as normas e procedimentos vigentes e não reclame. Se pensarmos bem, esse “talento” não seria talento de jeito nenhum ou não faria o que se esperaria que um talento real fizesse.
Não deveríamos esperar que alguém que é uma espécie de “raridade” dentre muitos fosse alguém sem coragem e determinação ou alguém que não considerasse fazer algo que, inicialmente, parecesse atrapalhar a “linha de montagem”.
É claro que (quase) tudo depende do contexto e as questões humanas são complexas, mas aqui parece ser uma coisa ou outra: se a organização deseja eficiência, ela deve abraçar o status quo e evitar atos de coragem e risco a todo custo. Por outro lado, se a organização quer crescimento e procura criar valor não tem escolha a não ser contratar talentos essenciais, aqueles que se destacam por alguma coisa.
Pessoas com coragem e determinação. Aquelas que estão dispostas a viver entre atos de ousadia e prudência em meio a riscos e incertezas, inclusive em relação ao seu papel no trabalho e, em última instância, à sua própria carreira.