Reivenção como força para inovação
Como Bob Dylan pode lhe trazer inspiração experimentadora.
Com a velocidade e a competitividade do mundo atual, a reinvenção contínua é um dos grandes desafios para organizações, e também para profissionais. A necessidade de reinventar-se o tempo todo e a coragem para abandonar sucessos presentes e gerar novidade tornam-se então imperativos. Mas como se transformar constantemente, arriscando novas direções e buscando novas possibilidades? Como fazer a diferença em meio à cacofonia de produtos, posicionamentos e marcas? E, no caso de um profissional, como imprimir uma marca pessoal em seu campo de atuação? Como, ao final do dia, gerar valor? Para o negócio ou para a sua carreira.
Ao pensarmos em tal desafio e no objetivo de se tornar uma marca diferenciada, poderíamos verificar como alguns artistas transformaram as suas vidas em uma eterna reinvenção. Buscaríamos entender o que eles fizeram ou fazem na construção de uma obra para a vida. Um desses artistas que poderíamos tomar como exemplo é Bob Dylan, pela ligação da filosofia artística dele com um princípio-chave para a promoção da inovação com impacto: o poder da experimentação contínua.
Bob Dylan sempre foi um “traidor”, no sentido de que todo traçado criador é necessariamente traidor do “establishment”. Nascido no interior dos Estados Unidos, em Minnesota, Dylan fugiu para Nova Iorque, onde “as coisas acontecem”. Sua vida tem sido na estrada, em uma constante e incansável performance com a “never ending tour”, que começou em 1988. Quando completou 70 anos, Bob Dylan continuava em movimento e ainda fazia cerca de 100 shows por ano. Alguns anos atrás, conduziu um programa de rádio via satélite, em que compartilhava as fontes onde bebeu, o que continua fazendo agora via seu website. Ao longo da carreira, enfrentou resistências, como quando foi vaiado no Newport Folk Festival, no verão de 1965, ao eletrificar o folk e não atender o coro dos descontentes, que queriam que ele se mantivesse fiel ao estilo que o consagrara até aquele momento. Bob Dylan influenciou e foi influenciado, nunca sendo o mesmo, criando “personas” e ousando novas direções.
Dylan viveu e vive como uma pedra rolante (“like a rolling stone”), que segue agregando impressões, imersa em novos lodos, gerando novas superfícies. Não para ser definido, mas ele mesmo se definindo através de sua obra, em uma produção constante de novas possibilidades, arquitetando conexões ininterruptas sem pensar duas vezes (“don’t think twice, it´s all right!”).
Se traçássemos então um paralelo entre esta busca de possibilidades por Dylan e uma solução possível ao desafio da diferenciação, poderíamos encontrar a constante busca em obter frescor e atualidade através do exercício de reinvenção, pela ampliação de conexões e por atos criativos e experimentações, cercando-se de apoios e através da procura contínua de algo novo e interessante. As ações passariam, assim, por experimentos, prototipagens, operação no caos, geração de novos campos criativos e consciência protagonista de pensar, sentir e agir de forma ousada e arriscada. Garantia de sucesso? Não, esta não existe. O processo de reinvenção em si seria a semente do valor desejado e poderia gerar a verdadeira diferenciação.
Claro que haveriam dificuldades nesse processo, na medida em que se estaria buscando operar de maneira fluida e, por que não dizer, “desestruturada”, o que seria em certa medida contrário à constatação de que grande parte das culturas corporativas demandam alto grau de disciplina, estrutura e controle. Do ponto de vista individual, a resistência estaria em como se libertar de limitações auto-impostas e outras também exercidas por pessoas próximas, sejam estas colegas, amigos ou mesmo familiares.
Seria preciso coragem e ousadia para arriscar e arriscar-se, atuando gradual e consistentemente no desejo de vencer a inércia, alterando radicalmente o jeito como as coisas são feitas e operando em uma tensão criativa que daria as boas vindas aos paradoxos e às contradições. Isto exigiria acentuado grau de sagacidade, para inclusive não temer e também gerenciar a esperada confrontação com os defensores do mesmo. Vale lembrar que a verdadeira contradição estaria em se querer o novo e continuar aferrado a velhos paradigmas.
Convidamos assim o(a) leitor(a) a, como Dylan, exercitar essas atitudes em sua próxima iniciativa de inovação ou em sua carreira, constantemente experimentando uma nova maneira de contar uma história, a história de algo novo e inovador.
©Gilvan Azevedo – artigo publicado no LinkedIn, em 22/07/2015.