Inovação vem de cima – Matéria da Revista Canal RH com Gilvan Azevedo
No mundo corporativo cada vez mais ávido por inovação é coerente que se cobrem das lideranças uma postura que permita e incentive um ambiente de livre pensar e, assim, estimule a criação de equipes efetivamente inovadoras. “É fundamental a presença de líderes que endossem a ideia da importância da inovação e criem mecanismos de recompensa e incentivo para tirá-la do papel”, acredita Gilvan Azevedo, consultor e coaching executivo. Assim, torna-se importante identificar e rever práticas gerenciais que eventualmente possam bloquear a criatividade.
Na Europ Assistance, empresa de assistência de viagens, automóveis e saúde para empresas, a motivação e o engajamento são as principais armas para incorporar a inovação na rotina de trabalho, como parte de ações pré-definidas no plano estratégico anual. Desenvolvidas pelo RH, essas atividades têm nos grupos multidisciplinares de estudos ou projetos – que possibilitam visões diferentes em relação ao mesmo assunto – uma das principais ferramentas. “Temos mecanismos, mas de nada adiantariam se os líderes não estivessem imbuídos da missão de estimular pensamentos diferentes e inovadores”, afirma Claudia Lourenço, diretora de RH da Europ Assistance, apontando que treinamentos sobre o assunto também são realizados com frequência.
Para Azevedo, quando o assunto é inovação, o papel dos líderes é imperativo. “Criar e manter uma cultura de inovação sustentável é basicamente um desafio de liderança, que tem a responsabilidade de conduzir uma abordagem integral de pensamento e ação por toda a empresa”, diz. “O alinhamento entre os diversos mecanismos organizacionais é fundamental para impregnar a inovação como elemento chave do DNA da empresa”, completa.
Talvez o maior desafio em inovação, continua Azevedo, seja exatamente inovar nas práticas ortodoxas de gestão e nos modelos organizacionais ainda conservadores em sua grande maioria. “Isto não significa abolir totalmente práticas existentes hoje. Por exemplo, faz sentido usar um processo de decisão hierárquico em atividades que necessitem de tal autoridade, como alocação de recursos, ou cobrando as pessoas por suas responsabilidades. Porém, ao mesmo tempo, é necessário um modelo que ajude profissionais autodirigidos a colaborar continuamente com os seus pares”, acredita.
Processo contínuo
Muitas vezes, são nos momentos de crise e dificuldade que surgem as soluções mais criativas. Mas não é preciso chegar ao limite para criar e inovar. Empresas já têm percebido que a inovação deve fazer parte da rotina, para que as ideias estejam sempre em movimento, trazendo resoluções e evitando problemas.
“Uma empresa, um produto, um serviço e mesmo um profissional têm um ciclo de vida, no qual o negócio ou a carreira atinge um estágio de maturidade. O monitoramento consciente destas etapas permite avaliar a necessidade de renovação ou mesmo de reinvenção”, afirma Azevedo. A falta de inovação tende a gerar insatisfação do profissional no trabalho, o que pode afetar sua relação com a liderança, dada a ausência de perspectiva de aprimoramento e aprendizado. Para a organização, o cenário se reflete em dificuldade na retenção de talentos – uma das principais preocupações empresariais atualmente. Portanto, mais uma vez, as lideranças assumem papel crucial nessa história.
“Na Europ Assistence, o papel do líder é fundamental em vários aspectos [no processo de inovação], seja como ‘patrocinador’ do projeto, seja como facilitador para que a equipe consiga vencer as barreiras que certamente aparecerão ao longo do projeto”, explica Claudia. Os grupos multidisciplinares da empresa foram criados para manter um fluxo ininterrupto de ideias e diálogos. “São celeiros de novas visões, pois unem o conhecimento, a vivência e a perspectiva de colaboradores de diferentes áreas e níveis hierárquicos. Esse mix proporciona importantes reflexões que geram mais do que um processo contínuo de inovação, mas também melhorias em diversos campos da organização, o que beneficia a todos”, conta.
Além disso, do ponto de vista das empresas, é fundamental que exista um alinhamento entre as várias dimensões envolvidas: estratégia, cultura, competências, processos, modelos, mecanismos de gestão, entre outras. “É papel do líder fazer a ligação entre esses universos e estar consciente de que o risco faz parte da mudança e da inovação”, explica. “Por isso, a liderança deve estar preparada para eventuais resistências, que devem ser compreendidas e gerenciadas”, complementa o consultor.
(por Fernanda de Almeida e Lucas Toyama)