Esqueça o consenso!
Já falamos aqui da lorota do talento. Outra conversa fiada é a de que “valorizamos a discordância aqui”.
Toda organização tenta equilibrar a tensão entre a preservação do status quo e a busca do novo. Parece existir o eterno dilema entre o sistema, a infraestrutura, a regularidade e a consistência, isto é, a preservação e a lembrança versus a invenção do novo, isto é, a necessidade de criar e esquecer o velho, ou ainda, destruir.
Talvez cada empresa devesse ter co-presidentes com igual poder: um de criação, um de preservação e outro de destruição. Esta solução visaria solucionar duas questões. Primeiro, é muito raro que alguém exiba um modelo mental que abranja esses três desafios; o perfil de um preservador, por exemplo, é fundamentalmente contrário ao de um destruidor. Segundo, na grande maioria das organizações, a preservação é sempre prioritária, com a criação em um não tão honroso segundo lugar e a destruição em um distante terceiro (talvez um ponto fora do gráfico).
Assim, não é muito comum que aqueles que desafiam o status quo, ou que buscam criar algo totalmente novo, consigam sobreviver em um ambiente no qual a preservação é o que mais se valoriza, mesmo que o discurso da diversidade apareça e a discordância seja momentaneamente tolerada.
A tendência natural, inclusive, é contratar-se pessoas com perfil semelhante aos dos líderes ou, no máximo, pessoas que teriam mais chances de rapidamente se adequar à cultura, ainda que mudanças sejam desejadas. E até por uma questão de adaptação, aqueles que estão ou vêm para criar o novo, buscam adotar uma postura de consenso e menos veemência nos pontos de vista, de modo a sobreviver.
Por outro lado, talvez a pessoa mais importante que se reporta a você é aquela que discorda mais vigorosamente, que tem a coragem para discordar de você. Jerry Krause, gerente de basquete do Chicago Bulls, disse uma vez: “Se você tem duas pessoas que pensam o mesmo, demita uma delas. Para que você precisa de uma cópia?” Ele falava de si mesmo e do competente treinador do Bulls, Phil Jackson. Assim, um contraste entre pontos de vista parece realmente ser muito importante, embora isso não queira dizer que seja fácil.